19 outubro, 2014

Valor do voto

Aí, logo depois de eu ter apertado o número daquele amigo da prima do vizinho e daquele federal que colocou um carro com música engraçada para passar aqui na rua e fez uma festa boa na semana passada, o moleque na mesa me segurou e disse que eu ainda não tinha terminado de votar. Caralho, já votei – duas vezes!
Volto lá pra casinha e ainda aparece três quadradinhos embaixo de SENADOR. Sei lá o que é senador? O rapaz na mesa falou que eu posso ver os números dos candidatos no outro andar, mas eu já vim até aqui, não vou subir escada porra nenhuma.
Perto da porta, no lixo, um santinho, com os números de vários candidatos, inclusive de um senador. Agora é o meu senador.
Para tirar a cara de nojo da moça que me devolve meus documentos (só porque eu peguei um papelzinho do lixo?), explico que pra governador, resolvi votar na Dilma também – se ela perder a presidência, fica pelo menos com o governo, que não é de todo mal.

08 julho, 2014

"At last", by Etta James

At last / my love has come along
My lonely days are over / and life is like a song

At last / the skies above are blue
My heart was wrapped up in clover / the night I looked at you

I found a dream, that I could speak to / a dream that I can call my own
I found a thrill to press my cheek to / a thrill that I have never known

You smiled, you smiled / oh and then the spell was cast
And here we are in heaven / for you are mine... at last


05 julho, 2014

Saudade, longe do berço

“Longe do berço, a palavra saudade é mais forte”, diria um expatriado lusitano, ainda pouco acostumado a encarar o sol nascer no mesmo Atlântico que agora o separa de casa.

Na verdade, essas palavras nunca chegam aos lábios. E vem de um brasileiro, feliz por mais um entardecer português.

Também a nascente desse idioma que une as margens atlânticas não se encontra aqui: o Lácio italiano deu flor longe das suas raízes latinas, e criou um idioma que já nasceu deslocado e saudoso.

E talvez saudade seja uma palavra muito forte para quem já começa a ver o retorno chegar, mas ainda se sente em casa onde não pertence.

Mas a verdade não faria sentido.

Real, só a palavra que viaja e nos carrega em seus sentidos.

Todos os outros fingem.

29 junho, 2014

Entre tempos

O relatório só precisa ser entregue daqui alguns meses, mas é melhor concluir esse trabalho antes de deixar esse continente para trás.

Organizando seus papeis, fica claro que menos de uma semana é o suficiente para registrar os principais pontos que não podem ser esquecidos – e mais um pouco, que a burocracia demanda.

Um dia passa e, depois, outros.

Ainda há tempo de terminar nessa mesma semana, se o ritmo foi duplicado. Mas qual o sentido de correr para terminar uma obrigação que não tem pressa nenhuma de ser concluída?

Ansioso, contempla a terrível possibilidade de que o único motivo para concluir um trabalho (sua única finalidade) seja sustar a pressão do prazo, ticando uma tarefa que automaticamente é substituída por outra nova.

Ao final da semana, o coelho se pergunta se ainda está na frente, ou se deve começar a correr atrás da tartaruga como Aquiles: cada vez mais perto, mas nunca lá. Ainda está adiantando a procrastinação... ou já passou a atrasar a correria da reta final?