29 novembro, 2007

Caninos

Começar a nascer pêlo no peito, aos 42, já me pareceu estranho.
Mas o que me atrapalhava a vida era aquela dor nos dentes.
A dentista disse que tinha algo de errado com os meus caninos, e sugeriu lixar.
Cortês, abri a porta de volta à ante-sala e permiti que a doutora passasse primeiro.
Como um cavalheiro, não deixei a doutora perceber que eu a media de cima a baixo, concentrando a atenção nos seu embaixo: firmes 90, 60 definidos, 85 empinadinha.
Sexta-feira saí com o meu bando, bebi demais e precisei me aliviar num poste, aquela sensação libertadora.
Uivando sob a lua, decidi que segunda-feira ia dar um jeito no negócio com a dentista.
Mas estou com fome pra agora – e não dá pra adiar essa vontade de carne pra segunda.

21 novembro, 2007

Caminho

Ao alcance dos meus olhos, embalei no colo o seu sono e te apresentei ao doce do mundo no leite do meu peito.
Temerosa, acompanhei seus primeiros passos oscilantes, sustentados pelas nossas mãos dadas.
Empurrei a bicicleta quando você tomou coragem pra se livrar das rodinhas – “só pra dar estabilidade”, menti: o coração que ia se equilibrando era o meu, eu que precisava do apoio para não cair.
Continuei seguindo seus passos já firmes com menos receio e cada vez mais orgulho.
Suas pernas abandonaram as bermudas e se firmaram em calças.
Meu olhar zeloso, sempre ao seu encalço, já pedia óculos.
Depois do pedágio, numa curva já não mais te vi: talvez tenha tomado algum desvio ou atalho que desconheço; talvez siga só mais à frente, e certamente poderei voltar a te ver num trecho reto mais à frente, se conseguir acelerar.
Só não posso pensar que você talvez não olhe mais pelo retrovisor enquanto aceno no vazio, de longe.

15 novembro, 2007

Exceção à regra

1. Toda semana eu começo oito frases.
2. Que eu esqueço antes da quinta.
3.
4.
5.
6.
7.
8.