25 fevereiro, 2007

O papel dos papéis

1. Nas eleições passadas, quando fui mesário, notei que as cédulas a serem usadas no caso de pane na maquininha eram feitas de papel jornal.
2. Achei a metonímia apropriada: o e-leitor também tinha o direito de ele mesmo escrever os nomes com que os periódicos manchariam suas páginas policiais menos nobres.
3. Voltei naquele dia para casa inspirado pelo desejo de comprar um volume da Constituição em papel crepom – mesmo amassado ou rasgado, esse papel continua lindo!
4. E, se me aborrecesse, poderia tomar-lhe uma ou duas páginas para fazer um lindo adorno de flores artificiais.
5. Foi com choque que, ao chegar à livraria no dia seguinte, percebi que todo o dinheiro que forrava minha carteira era feito de papel higiênico.
6. Com dificuldade, consegui com ele limpar e descartar todo o meu valor antes do final do mês.
7. Mas não consegui diluir o incessante odor do preço.
8. Felizmente, chegou o quinto dia de um novo mês, e recebi com alegria o meu holerite – politicamente corretamente feito de papel reciclado.

21 fevereiro, 2007

De veados e rosas

1. Fazia uns seis anos que eu não via o Palmeirense quando ele chegou já me chamando de viado.
2. O cara era alvi-verde e roxo, não perdia um jogo.
3. Não conseguiu segurar o riso quando eu respondi o que andava fazendo de noite, que não passava mais lá no Zé às quartas.
4. “Porra, mas gafieira... puta perda de tempo!”
5. Cada jogo de futebol são duas hora de vida a menos – sem contar as mesas redondas na TV ou no bar, as vezes que ele foi pro Parque Antártica, pegou fila pro ingresso ou foi comemorar na Paulista cercado por cinco mil fedidos como ele, embalados pelo lacrimogêneo da polícia.
6. “Esse negócio de gafieira, isso, isso aí é... isso é coisa de [mãozinha rebolando]”
7. De noite eu abraço minha nega e sorrio, exausto.
8. Ela me disse que o nome dela era Rosa, mas bem podia ser Vingança.